sábado, novembro 26, 2011

"Tinha apenas cinco anos, quando fui pela primeira vez na minha curta existência ao jardim zoológico. Apenas cinco anos, cinco primaveras, cinco voltas ao sol. Minha mãe levou-me pela mão e me mostrou cada canto do jardim, como se dela fosse, como se de nossa casa se tratasse. E num desses cantos vi um pássaro com penas cor-de-fogo, laranja e azul. Uma autêntica beleza, raridade, obra de arte. Parámos para observá-lo quando, matando um silêncio absoluto que se havia apoderado do ambiente, perguntei inocentemente:
-Mamãe, este pássaro nasceu aqui na cidade?

Minha mãe me olhou e respondeu sabiamente:
-Não filha, nasceu longe,muito longe. Em África, talvez. Não sei ao certo...
-África? Mas isso é tão longe... E quando vai ele voltar para casa?
-Voltar? Filha, não funciona assim... Esta é a casa dele, agora.
-Uma gaiola?
-Sim.
-Então ele não vai voltar a África, que foi onde nasceu?
-Não.

Olhei-a nos olhos, e desviei lentamente o meu olhar para aquele milagre cor-de-fogo.
Comecei a chorar.

-Filha, que se passa? Porque estás a chorar?
-Porque este passarinho nasceu no paraíso e vai morrer numa gaiola."


Eu me sinto como aquele passarinho neste momento. Perdi a minha "África" o meu paraíso pessoal, a minha liberdade. Agora resta-me acordar todas as manhãs ouvindo esta cidade a funcionar, qual máquina brutal para os mais fracos, e adormecer ao som do mesmo. Cheirar o fumo que nos envolve, sentir as batidas dos carros e das discussões. Ver o pôr-do-sol cor-de-vómito e tapado pelos prédios.
Perdi minha "África"; o mais triste é não ser a única...

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