domingo, dezembro 11, 2011



"Longe deste sítio; longe desta dor; longe deste momento. O meu corpo está ali deitado, mas eu já desapareci há muito. "Pensa em gelados com sabor a chocolate. Pensa... pensa no sol. Pensa em qualquer coisa, qualquer coisa. Pensa em tudo, menos no que está a acontecer."
Eu nem sei onde está o meu corpo (que sítio é este?), parece um beco, mas ao mesmo tempo não o reconheço. As lágrimas não me deixam ver mais do que um simples e suave nevoeiro que esconde a face do monstro que se apoderou de mim. Ele avança e recua, avança e recua. Ora o vejo, ora não o vejo. Ora o vejo, ora não o vejo.
Nunca imaginei que esta minha primeira vez fosse assim. Nunca sequer pus a hipótese de isto me acontecer a mim, a mim, eu, uma rapariga tão inocente.
De repente, o monstro parou, e saiu de dentro de mim. (onde está? onde foi? onde irá?)
De repente levantou-me, encostou-me à parede e pediu-me um beijo.
Eu recusei, mas a dor, a dor, a dor. Aquela dor purjante tornou-se mais intensa. E aquele medo filho da puta, esse trincou-me o pescoço e arrancou a minha pele. Beijei o diabo.
No final, ele ajudou-me a vestir e disse-me para ir ao hospital; disse que não fui a primeira dele, mas que sabia que tinha sido o meu primeiro. Disse-me também o seu nome, por uma questão de ética (como se ele soubesse o que isso é.)
Segui o meu caminho, ainda angustiada. Sentia-me imunda, suja, queria apenas encontrar água bem quente e esfregar-me até toda aquela merda sair de mim.
No dia seguinte, tudo estava bem. Fui a filha perfeita, a colega perfeita, a amiga perfeita, a namorada perfeita. Mas à noite, aí tudo aconteceu outra vez, e outra vez, e outra vez... Dentro da minha cabeça, o medo tinha construído uma casa e prometeu aí ficar até o chão me comer."

-Violada pelo diabo.


----> Ruth Meyers

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