
Ela estava sentada à lareira, lendo um livro enquanto bebericava um chá quente. Era Inverno, por isso não havia muito a fazer. Não nos podemos distrair tão facilmente como no Verão. E a paisagem de inverno é sempre a mesma: fria, branca, vazia. A de Primavera tem flores coloridas e pássaros que espalham melodias pelo ar perfumada. A de Outono é quente e dourada e cheira a castanhas assadas em cada esquina de cada rua. A de Inverno é, como já referi, fria e branca. Vazia. E quando a olhamos, também nós nos sentimos frios e vazios, telas brancas à espera de alguém que venha, alguém especial, e nos pinte com quantas cores puder. E que faça de nós e da nossa tela branca uma autêntica obra prima. Deprimimos, isto é.
Ela sentia-se assim. Nada de especial: ela sente-se assim todo o ano. Mas no Inverno é pior, como já expliquei. Ela olhou pela janela e viu tudo vazio: nem uma única pessoa na rua. Acendeu um cigarro, poisou o livro e acabou o chá. Deitou-se na sua cama, com as persianas baixas e as luzes apagadas e simplesmente se deixou levar pelos seus pensamentos. Voou até sítios onde nunca poderia estar, com pessoas que nunca poderia ter. Os sonhos têm esta vantagem: podes ser e ter o que quiseres, quando quiseres, como quiseres.
-Sonhar: um refúgio. Mas por quanto tempo?
Sem comentários:
Enviar um comentário